segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cultivo do Feijoeiro Comum - Irrigação

Irrigação

O rendimento do feijoeiro é bastante afetado pela condição hídrica do solo. Deficiências ou excessos de água, nas diferentes fases do ciclo da cultura, causam redução na produtividade em diferentes proporções. As fases de floração e de desenvolvimento da vagem são as mais sensíveis à deficiência hídrica. A redução na produção sob estresse hídrico deve-se à baixa porcentagem de vingamento das flores, quando o estresse ocorre na fase da sua abertura e ao abortamento de óvulos, produzindo vagens chochas, se ocorrer estresse na fase de sua formação. Em condições de excesso de água no solo, o desenvolvimento vegetativo e o rendimento são bastante prejudicados. A fase de início da frutificação é a mais sensível à má aeração do solo.
A irrigação por aspersão, nos sistemas convencional, auto propelido e pivô central, tem sido o método mais utilizado na cultura do feijoeiro. Em menor escala também têm sido utilizadas a irrigação por sulcos e a subirrigação em solos de várzeas. Considerando-se o método de irrigação por aspersão, o sistema pivô central é o mais apropriado para irrigar áreas individuais maiores e, por isto mesmo, é o mais usado na cultura do feijoeiro em terras altas na região dos Cerrados, visto que a lucratividade final obtida com esta cultura depende, entre muitos fatores, do tamanho da área plantada.
A irrigação por sulcos tem sido usada na cultura do feijoeiro, tanto em terras altas como em várzeas sistematizadas e drenadas. Os sulcos normalmente apresentam a forma de V, com 0,15 a 0,20 m de profundidade e 0,25 a 0,30 m de largura. O espaçamento entre sulcos depende da textura do solo e do perfil de umedecimento. Geralmente é utilizado o espaçamento de 0,9 a 1,2 m, com duas linhas de plantas entre os sulcos.
Utiliza-se também o espaçamento de 1,8 m, com quatro linhas de plantas entre os sulcos.
A subirrigação é mais apropriada para terras baixas ou solos de várzeas e, por isso mesmo, funciona como uma drenagem controlada. Na subirrigação, a umidade atinge as raízes das plantas por meio da ascensão capilar. Em várzeas, o lençol freático deve ser mantido a uma profundidade tal que permite obter a melhor combinação entre água e ar na zona radicular.
O manejo da irrigação do feijoeiro pode ser feito pelos métodos do tensiômetro, do turno de rega e do tanque Classe A. Pela simplicidade e praticidade é dada maior ênfase ao método do tensiômetro.
Os tensiômetros são aparelhos que medem a tensão da água do solo. Para seu uso, é necessária também a determinação da curva de retenção de água, que é uma propriedade físico-hídrica do solo, determinada em laboratório. Ela relaciona o conteúdo de água do solo com a força com que ela está retida por ele. O tensiômetro deve ser instalado entre as fileiras de plantas de feijão e em duas profundidades, uma a 15 cm e outra a 30 cm, lado a lado, cujo conjunto forma uma bateria. A leitura do tensiômetro de 15 cm representa a tensão média de um perfil de solo de 0-30 cm de espessura, o qual engloba a quase totalidade das raízes do feijoeiro. Este tensiômetro é chamado tensiômetro de decisão, porque indica o momento da irrigação (quando irrigar). Já o tensiômetro instalado a 30 cm é chamado tensiômetro de controle, porque verifica se a irrigação está sendo bem feita, para que não haja excesso ou falta de água. Nos sistemas convencional e autopropelido, o tensiômetro se presta, principalmente, no acompanhamento da tensão da água do solo e como instrumento de validação do turno de rega implantado. Já no sistema pivô central, constitui o instrumento mais prático para indicar o momento da irrigação. Neste sistema, as baterias devem ser instaladas a 4/10, 7/10 e 9/10 do raio do pivô, em linha reta a partir da base.
A irrigação deve ser feita toda vez que a média das três baterias dos tensiômetros de decisão, instalados a 15 cm de profundidade, alcançar a faixa de 30-40 kPa (0,3-0,4 bar). As irrigações baseadas nas leituras dos tensiômetros devem iniciar 15 a 20 dias após a emergência das plantas. Logo após a semeadura, devem-se fazer irrigações mais freqüentes, para manter a camada superficial do solo sempre úmida, favorecendo a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas e recarregando de água o perfil do solo abrangido pelo tensiômetro de decisão. A irrigação deve ser suspensa quando as folhas da planta de feijão vão se tornando amareladas pelo amadurecimento.
O procedimento para determinação da quantidade de água a ser aplicada é o seguinte: de posse da curva de retenção de água, verifica-se quanto 30-40 kPa correspondem em conteúdo de água no solo, dado em cm3 de água/cm3 de solo. Em seguida, calcula-se a diferença entre o conteúdo de umidade a 10 kPa (capacidade de campo) e a 30-40 kPa. Esta diferença, multiplicada pela profundidade de 30 cm, indicará a lâmina líquida de irrigação.
Na subirrigação, pelas leituras dos tensiômetros, sabe-se a necessidade ou não de se movimentar o lençol freático. Se as leituras indicarem baixa tensão de água, ou seja, alta umidade do solo, a profundidade do lençol freático deve ser rebaixada e vice-versa.
O método do turno de rega (TR) é o mais utilizado pelos irrigantes. São levados em consideração fatores do solo, como: "capacidade de campo", ponto de murcha permanente, densidade do solo; e fatores da planta, como: profundidade efetiva das raízes, fator de disponibilidade de água e evapotranspiração máxima, para calcular o intervalo entre duas irrigações sucessivas. O TR é determinado segundo a equação:


em que:
TR = turno de rega, em dia;
LL = lâmina líquida de irrigação, em mm;
ETc = evapotranspiração da cultura, em mm/dia;
AD = água disponível do solo, em mm;
f = fator de disponibilidade de água, adimensional;
CC = "capacidade de campo" do solo, % em peso;
PM = ponto de murcha permanente, % em peso;
Ds = densidade do solo, em g/cm3;
Pe = profundidade efetiva das raízes da planta, em cm.

Tanto o valor de Pe como o de Etc variam ao longo do ciclo do feijoeiro, podendo ser determinados dois ou mais turnos de rega. O método do TR, como critério de quando irrigar, é mais apropriado para ser empregado quando se utilizam os sistemas de aspersão convencional ou autopropelido e/ou por sulcos.
O método do tanque Classe A consiste no uso de um tanque de aço inoxidável ou galvanizado, com 121,9 cm de diâmetro interno e 25,4 cm de profundidade, e que deve ser cheio d'água até 5 cm da borda superior. Não se deve permitir variação do nível da água maior do que 2,5 cm. Como os processos de evaporação da água livre no tanque (Ev) e a evapotranspiração da cultura (Etc) são semelhantes apenas nos seus aspectos físicos, devem ser considerados dois coeficientes, Kp (coeficiente do tanque Classe A) e Kc (coeficiente da cultura), para converter Ev em Etc, segundo a equação:

Etc = Ev x Kp x Kc

Assim, o quando irrigar corresponde ao momento em que a soma dos valores de evaporação de tanque, multiplicados pelos coeficientes, alcançar o valor da lâmina líquida de irrigação, previamente determinada, a ser aplicada a cultura.