segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cultivo do Feijoeiro Comum - Fixação Biológica de Nitrogênio

Fixação Biológica de Nitrogênio

A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) no Brasil está presente na maioria dos sistemas de produção, principalmente naqueles vinculados à agricultura familiar. A inoculação de bactérias do grupo dos rizóbios, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e fornecê-lo à planta, é uma alternativa que pode substituir, ainda que parcialmente, a adubação nitrogenada, resultando em benefícios ao pequeno produtor. Resultados indicam que a cultura do feijoeiro, em condições de campo, pode se beneficiar do processo da fixação biológica de nitrogênio (FBN) alcançando níveis de produtividade de até 2.500 kg/ha. O inoculante brasileiro, durante muito tempo, foi produzido utilizando-se bactérias que eram obtidas no exterior e testadas pelas instituições de pesquisa no Brasil. Com a evolução destes estudos, revelou-se a inequação destas estirpes aos solos tropicais, uma vez que estão sujeitas a um elevado grau de instabilidade genética, comprometendo sua capacidade de fixar nitrogênio. Este fato pode explicar, pelo menos parcialmente, a decepção de muitos agricultores com o uso do inoculante nesta cultura até bem recentemente. Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro no Brasil é produzido com uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, o Rhizobium tropici, resistente a altas temperaturas, acidez do solo e altamente competitiva, ou seja, em condições de cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta, predominando sobre a população de rizóbio presente no solo. A eficiência da FBN, entretanto, depende das condições fisiológicas da planta hospedeira que fornece a energia necessária para que a bactéria possa realizar eficientemente este processo. Além da calagem, é importante proceder a correção do solo com os demais nutrientes. Ressalta-se a importância do fornecimento de fósforo, deficiente na maioria dos solos tropicais, o qual tem efeito marcante sobre a atividade da nitrogenase, devido ao alto dispêndio energético promovido pela atividade de FBN. O molibdênio é um micronutriente que tem efeito marcante sobre a eficiência da simbiose, sendo um constituinte estrutural da enzima nitrogenase, que, dentro do nódulo, executa a atividade de FBN. A aplicação foliar de molibdênio promove aumentos de produtividade em feijoeiro inoculado, sendo que há vários produtos disponíveis no mercado para esta finalidade. Apesar de o feijoeiro ser uma planta com grande capacidade de aproveitamento do nitrogênio disponível no solo, a aplicação de adubos nitrogenados tende a afetar negativamente este processo. Solos com maiores teores de matéria orgânica, que liberam nitrogênio lentamente, podem beneficiar a planta do feijoeiro sem, contudo, reduzir a sua capacidade de fixação. Dentre os fatores ambientais mais importantes para o processo de fixação biológica de nitrogênio, a ocorrência de deficiências hídricas, ou seja, seca durante o ciclo de cultivo tem efeito negativo em diferentes etapas do processo de nodulação e na atividade nodular, além de afetar a sobrevivência do rizóbio no solo. A ocorrência de altas temperaturas afeta, também, a sobrevivência do rizóbio no solo, o processo de infecção, a formação dos nódulos e ainda a atividade de FBN. O procedimento de inoculação das sementes com rizóbio é simples, bastando misturar as sementes com o inoculante de rizóbio para o feijão. Este inoculante é, geralmente, vendido em embalagens contendo a bactéria em veículo turfoso, o mais recomendado atualmente pela pesquisa. Alguns cuidados devem ser tomados por se tratar de organismos vivos e sensíveis ao calor. Deste modo, recomenda-se que a inoculação seja feita à sombra, preferencialmente nas horas mais frescas do dia, utilizando uma solução açucarada a 10% como adesivo, ou outros produtos como goma arábica a 20%. Mistura-se 200 a 300 ml desta solução ao inoculante (500 g) até formar uma pasta homogênea. Em seguida, mistura-se esta pasta a 50 kg de sementes de feijão até que fiquem totalmente recobertas com uma camada uniforme de inoculante. Deixar as sementes inoculadas secando à sombra, em local fresco e arejado, realizando o plantio até, no máximo, dois dias após. Caso seja inevitável o uso de agrotóxicos e micronutrientes, deve-se tratar primeiro as sementes com estes produtos, deixar secar e só então proceder a inoculação. Verificar a compatibilidade do produto com o inoculante antes da sua utilização. Alguns produtos são extremamente tóxicos ao rizóbio, especialmente fungicidas, devendo-se escolher os de menor toxidez e mantendo-se o inoculante em contato com estes produtos o menor tempo possível.